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sábado, 18 de fevereiro de 2012

AMOR QUE VEM DE BERÇO

Ela tem fortes raízes do samba e começou a desfilar ainda criança. A bela mulata carioca de curvas acentuadas é Juliana Palmer, 28 anos, jornalista e socióloga política. Trabalha com assessora executiva na Associação Brasileira de Municípios do Estado do Rio de Janeiro. Filha do casal de mestre-sala e porta-bandeira Élcio PV e Dóris e afilhada de batismo de Anízio Abrahão David, presidente da Beija-Flor de Nilópolis. Juliana é uma amante declarada da festa do Momo: “Eu não saio do Rio por nada é mais forte do que eu, eu preciso estar aqui”.

Arquivo Pessoal/Juliana Palmer
MS Élcio PV e PB Dóris
Arquivo Pessoal/Juliana Palmer
MS Élcio PV e PB Dóris com Julio Iglesias
André Costa: Juliana como tudo começou?

Juliana Palmer: Eu cresci vendo os meus pais dando entrevistas, viajando para apresentar a escola. Achava maravilhoso ver meu pai sendo aplaudido. As pessoas querendo tirar foto com ele. Eu via que ele era um homem realizado com aquilo que ele fazia com muito amor e ele tinha reconhecimento. Eu simplesmente quis viver aquilo também. Só quem pisa na avenida sabe o quanto é mágico.


A.C: Foi desta forma que você decidiu vir como porta-bandeira?

J.P: Foi. Nesta época eu tinha 7 anos de idade, meu mestre-sala era o meu irmão. Meus pais estavam no Salgueiro como primeiro casal e montaram uma escolinha de mestre-sala e porta-bandeira mirim. Tinham 70 alunos, mas, só 16 pares seriam selecionados para desfilar na Avenida. Acredite se quiser, eu treinei muito com meu irmão para sermos selecionados. E graças a Deus fomos.

Arquivo Pessoal/Juliana Palmer
PB Dóris

A.C: E como foi aquele momento para você?

J.P: Foi mágico. Entrar na avenida sobre a direção dos meus pais. Eu estava ao lado dos meus ídolos. Naquela época o mestre-sala e a porta-bandeira tinha que ser bom mesmo. Não tinha favorecimentos, não era tão fácil como agora.

A.C: Favorecimentos?

J.P: Hoje a dança do mestre-sala e da porta-bandeira está muito técnica, eles desfilam para o jurado ver. São poucos os que vem dançando de verdade, a porta-bandeira rodando com a bandeira aberta. Eles inventam passos que não existe acabando com a tradição da dança. É a dança da corte francesa, é o Minueto. Minha mãe fazia isso muito bem, com classe, elegância e com um salto de 11 cm de altura. Mudou muito, hoje a coisa está muito comercial. É triste, mas, é real. Hoje porta-bandeira usa top. Elas são musas ou elas são uma das figuras mais importantes da escola? Elas são umas das figuras mais importantes da escola, carregar o pavilhão de uma escola é motivo de honra e orgulho, logo classe e postura devem ser fundamentais.

A.C: Para você quem é o melhor casal de mestre-sala e porta-bandeira?

J.P: Sem sombra nenhuma de dúvida, Lucinha e Rogerinho da Portela. Eles dançam mesmo, do inicio ao fim da Avenida, com ou sem chuva. Lucinha roda perfeitamente, a bandeira está sempre aberta, os braços erguidos. Ela é segura, ela sabe o que faz. Rogerio é leve, elegante, tem porte, tem um sorriso que ilumina a passarela, risca o chão como ninguém. O casal é lindo. Eles fazem aquilo com amor, com paixão, com gosto. Eles não são meus amigos, falo o que vejo, o que sinto. São maravilhosos. Mas também gosto da Ana Paula e do Robson, se não me falha a memoria estão desfilando pela Mocidade este ano.


foto de divulgação/ Jorge Antunes­ ­
Juliana Palmer

A.C: Porque você não seguiu a carreira de porta-bandeira?

J.P: Eu tinha uma grande professora em casa, a minha mãe. Achava lindas as roupas que ela mandava fazer, muitas vezes era ela quem costurava. Acompanhava o amor e o carinho que ela tinha em viver aquele momento, boa alimentação, corria na lagoa todos os dias, ensaiava com meu pai dentro de casa com vassoura molhada, era o ano todo se preparando. Sem contar que tinha que ser dona de casa, mãe de quatro filhos, full time. Mas eu nunca tive talento para ser porta-bandeira, esta é a verdade. Achei cansativo ficar com o braço em pé por várias horas, a roupa pesa muito. Para fazer de qualquer jeito e sobreviver com o nome dos meus pais, eu preferi vir sambando, isso eu tenho a certeza que faço muito bem... (risos)

A.C: Como você se descobriu sambando?

J.P: Eu ia aos ensaios e sempre queria ficar perto da bateria, ate hoje sou assim. E aquele som me domina, eu não consigo ficar parada. Eu saio de mim, eu me entrego totalmente. Numa dessas entregas eu comecei a perceber que as pessoas paravam para me elogiar, queriam tirar foto comigo, os ritmistas da bateria interagiam comigo quando eu estava sambando... Então eu pensei:- Achei meu lugar, é sambando mesmo. Porta- bandeira só tem uma lá em casa.

A.C: Como seus pais reagiram a esta escolha?

J.P: Bem. Meus pais nunca me obrigaram a nada. A prioridade lá em casa era ter uma formação acadêmica, conhecimento, um bom trabalho. Esta era a maior preocupação deles. Na verdade meus pais nunca viveram do samba e não queriam isso para mim. Mas é obvio que minha mãe me deu uns toques do que fazer com as mãos, de como ser leve, chique, elegante enquanto se samba. E foi na Beija-flor que eu vim pela primeira vez no chão, sobre os olhares atentos da minha mãe, na ala das passistas.

A.C: Como foi vir na ala das passistas?

J.P: Foi duro! Elas sambavam muito e eu não queria ficar atrás. Aprendi muito observando elas. A ala das passistas é uma ala forte, de muitas raízes. Foi uma prova de fogo, mas, eu passei bem.

Bato palmas pra elas. Não gosto de ver artistas nas escolas tirando a vaga dessas meninas. Gosto de ver comunidade, pessoas que estão ali por amor ao Carnaval, à escola, não para aparecer.

A.C: Mas você não concorda que o Carnaval é para todos?

J.P: Concordo. Por ser para todos cada qual deve estar no seu lugar. Sai na ala, até mesmo no carro. Agora sem samba no pé a frente da bateria ou de musa, não dá. Elas podem aparecer o ano todo de diversas formas.

A.C: Por quantas escolas você já passou?

J.P: Por cinco. A primeira foi salgueiro, depois Beija-Flor, Imperatriz, Porto da Pedra e Viradouro. Eu amo Carnaval. Eu não saio do Rio por nada e mais forte do que eu, eu preciso estar aqui.

A.C: É verdade que a Beija-Flor é a sua escola de coração?

J.P: É sim. Choro muito quando a Beija-Flor entra na avenida. Amo aquela comunidade. Pela Beija-Flor já vim no carro, no chão, na diretoria, na ala das passistas, em ala comercial. Meu coração é azul e branco.

A.C: Você é afilhada de batismo de Anízio Abrahão David. Como é sua relação com ele?

J.P: É maravilhosa. De pai para filha, meu segundo pai. Sempre pude contar com ele. Ele é uma pessoa maravilhosa, de coração enorme, ajuda muitas pessoas. Não tenho o que falar do meu Dindo. Só posso agradecer a ele por tudo que ele fez e faz por mim ate hoje e dizer que sou orgulhosa por tê-lo na minha família, na minha vida. Oro por ele todos os dias.

A.C: Este ano você vem na Viradouro. Seu padrinho não fica com ciúmes?

J.P: Eu creio que ele ainda não sabe. Mas eu acho que não. São todas co-irmãs. A Viradouro se tornou a minha segunda escola de coração. Já é o segundo ano consecutivo venho. Sou muito bem tratada por todos, desde o porteiro até o presidente. Eu me sinto em casa. As pessoas são carinhosas, atenciosas, retornam a ligação. Eu estou muito feliz lá. Aproveito o momento é agradeço a comunidade, o presidente Rildo Seixas, o diretor de carnaval, Celso.

A.C: A Viradouro este ano fala de Nelson Rodrigues. Como será sua fantasia?

J.P: Minha fantasia é super bonitinha, sensual. Acho que não dava para ser diferente. Eu venho no carro abre-alas vestida de vedete. Tenho certeza que este ano será nosso. A escola esta muito bonita, o samba é maravilhoso, fizemos ensaios técnicos na quadra, na rua, na Marquês de Sapucaí e tenho certeza que a escola está pronta. Estamos com sede de campeonato. Ano passado foi por pouco. A Viradouro tem que voltar para o Grupo Especial, na verdade ela nunca deveria ter saído.

A.C: Como você faz para manter este corpão?

J.P: Acredite se quiser, eu não faço muita coisa não. Estou fora da academia há alguns meses. Quando chega outubro eu começo a me preocupar mais com a minha alimentação e fecho a boca. Confesso que não me sinto na minha melhor forma. Eu como de tudo, sou louca por chocolate. Adoro comer e comer bem. (risos).

A.C: Quais são as suas medidas?

J.P: Nossa que pergunta! Eu tenho 1m74 de altura, 74k, 97 de busto, 74 de cintura, 110de quadril e 68 de coxa. Acho que é isso, sinceramente não sei se alguma coisa mudou (risos).

A.C: Seu namorado não sente ciúmes?

J.P: Sente um pouquinho. Ele é um branco com alma negra, ama carnaval e isso já facilitam as coisas. Ele adorava me ver sambando. E eu sambo pra ele, sambo muito para ele (risos). Mas estamos sempre conversando, somos parceiros, confidentes, amigos. A nossa relação é prioridade. Estamos sempre tentando conciliar as coisas para que fique bom para ambas as partes. Eu sempre demonstro com palavras e gestos o quanto ele é importante pra mim. Tento fazer com que ele viva isso comigo, que ele participe, divirta-se. O apresento, levo aos ensaios, no barracão. Peço a opinião dele e não faço nada sem que ele não saiba. Acho importante ouvir quem me ama.

E depois de mais de dois anos de relação, pela primeira vez ele estará ao meu lado na Avenida. Já disse a ele que posso não aguentar tanta emoção e cair no choro.

A.C: Você gostaria de deixar uma mensagem para os leitores do Agogô Samba e Carnaval?

J.P: Em primeiro lugar eu gostaria de agradecer. Para mim é um privilegio ser entrevistada por vocês. Foi muito gostoso relembrar um pouco da minha estória com meus pais, expor minhas opiniões abertamente. Aos leitores eu gostaria de desejar um excelente carnaval, com amor, alegria e paz.

Se beber não dirijam e cuidem-se, não deixe de usar camisinha.

E vamos proteger as nossas crianças.

Beijos afros.

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